O piloto brasileiro Gabriel Bortoleto chega à Fórmula 1 como membro de um clube muito exclusivo. No ano passado, o jovem de 20 anos se juntou a Charles Leclerc, George Russell e Oscar Piastri como os únicos pilotos da história a vencer os títulos de F3 e F2 em anos consecutivos.
Ele também está em ótima companhia quando se trata de vizinhos. O brasileiro se mudou no mês passado para seu novo apartamento em Mônaco, que abriga pelo menos metade do atual grid da F1, incluindo Leclerc, Lewis Hamilton, Max Verstappen, Lando Norris, Carlos Sainz e Ollie Bearman.
Este ano, ele fará sua estreia na Fórmula 1 com a Kick Sauber – e por isso passou grande parte de 2025 na Suíça, na sede da equipe em Hinwil, nos arredores de Zurique, conhecendo seus novos colegas.
“Tem sido um trabalho de preparação muito intenso aqui na Sauber, vindo aqui duas ou três vezes por semana, focado em fazer muito trabalho de simulador, estar com os engenheiros, entender como eles falam entre si, como eles querem que eu fale com eles, como eu quero que eles falem comigo”, disse ele.
“Quero estar muito próximo deles e criar um relacionamento muito bom antes do início da temporada. É algo que sempre fiz, especialmente nos últimos dois anos com minhas equipes na F2 e F3, então, quando começamos a temporada na primeira rodada, parecia que já estávamos juntos há anos.”
Essa ética de trabalho foi uma das características que se acredita ter realmente impressionado o chefe da Sauber, Mattia Binotto – embora ele não seja o único admirador do brasileiro. A empresa de gestão A14 do bicampeão mundial Fernando Alonso contratou Bortoleto em um momento em que sua carreira estava em jogo.
“Tivemos tantos problemas em 2022”, relembra Bortoleto. “Não estávamos sendo seguidos por ninguém na época. Éramos só eu e meu pai e não tive oportunidade de ir para a F3 na época.
“Não sabíamos o quão difícil era conseguir uma vaga na F3. Pensamos 'Ah, ainda estamos em julho, temos tempo'. Então comecei a ouvir que a PREMA estava cheia, a Trident estava quase cheia e pensei que talvez devêssemos começar a pressionar por isso.
“Não é fácil, você precisa encontrar patrocinadores para ajudar você a chegar lá. Então meu pai foi correr no Red Bull Ring com alguns amigos. Ele conheceu Fernando e [seus amigos de longa data] Alberto [Fernandez Albilares] e Albert [Resclosa Coll, o trio juntos formaram a agência de gestão A14].
“Fernando sabia quem eu era, pois corri pela sua equipe na FRECA [Campeonato Europeu de Fórmula Regional da Alpine]. Tive alguns ótimos resultados para a equipe, como o primeiro pódio, a primeira fila.
“Nós dois queríamos ficar juntos, eu tendo uma boa equipe de gestão, e eles confiando em um jovem piloto que poderia potencialmente fazer bons resultados no futuro. Eles ligaram para a Trident e foi uma coisa bem louca. Tudo deu muito certo. Nós assinamos, ganhamos o campeonato – e ficou muito legal.”
Ter um piloto da qualidade de Alonso ao seu lado é significativo. O espanhol é considerado um dos pilotos mais talentosos que a F1 já viu – e continua a correr na F1 aos 43 anos, 24 anos depois de ter feito sua estreia no esporte. O fato de ele acreditar em Bortoleto só acrescenta peso à opinião de que ele é especial.
“Temos um relacionamento muito bom um com o outro”, diz Bortoleto. “Acho que é principalmente um relacionamento profissional. Sempre que conversamos, é principalmente sobre corrida. Quando o vejo na pista, se tenho alguma dúvida, ele sempre me ajudou na F3 e na F2.
“Posso dizer que sou muito grato por todos os conselhos que ele me deu nos últimos dois anos. Ele tem sido muito bom para mim. Ele está disposto a me ajudar e me ensinar. É uma ótima coisa tê-lo por trás.
“É um nome forte para se ter por trás. Quando você tem Fernando Alonso te gerenciando, é um pouco diferente porque eles sabem que é alguém como ele confiando que você pode ser um talento futuro.”
Bortoleto estará em boa companhia em termos de rivais geracionais, já que é um dos cinco novatos no grid este ano, junto com Kimi Antonelli (Mercedes), seu rival pelo título de F2 Isack Hadjar (Racing Bulls), Ollie Bearman (Haas) e Jack Doohan (Alpine).
“Nós corremos um contra o outro desde os 10 anos [de idade]”, ele diz. “Ollie dos novatos é o mais próximo de mim. Kimi é um cara muito legal. Jack sempre esteve uma série à minha frente, não tivemos muito contato, mas conversamos um com o outro.
“Tenho um bom relacionamento com todos. Isack – qualquer um que acompanhou a F2 no ano passado deve ter visto a batalha intensa que tivemos, com 0,5 ponto de diferença entre nós para Abu Dhabi. Foi bom lutar com ele. Estou animado para ver todos nós no grid – é uma grande renovação da Fórmula 1.”
Bortoleto provavelmente terá o trabalho mais difícil de todos esses novos rostos, já que ele se juntou à equipe que terminou em último no Campeonato de Equipes de 2024 – e como ele assinou um contrato tão tarde, ele não teve espaço para fazer testes TPC (Testes do Carro Anterior) irrestritos para se atualizar.
Em vez disso, ele percorreu os 1.000 km permitidos em carros de dois anos de uso, como é permitido para os atuais pilotos de corrida, e passou inúmeras horas no simulador na tentativa de estar o mais preparado possível.
Não é o ideal, mas ele está o mais bem preparado possível e, se sua forma recente servir de referência, vencendo seus dois últimos campeonatos na primeira tentativa, ele tende a começar a correr de qualquer maneira.
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